quinta-feira, 12 de março de 2009

materia do jornal (o diario de Mogi) mogi das cruzes SP

A crise econômica mundial tem feito com que, cada dia mais, dekasseguis mogianos – brasileiros que imigram ao Japão em busca de trabalho, retornem à Cidade. Com o problema no setor financeiro, empresas japonesas têm realizado demissões em massa e encerrado novas contratações. Sem emprego, os dekasseguis se vêem obrigados a voltar ao País de origem para tentar uma nova vida.
Após ter morado por quase cinco anos no Japão, o pastor Luiz Alves Cirino, que vive atualmente na Vila Suíssa, no Distrito de César de Souza, decidiu retornar com a família para Mogi das Cruzes, onde já residia anteriormente. Para ele, a vida no país nipônico ficou insustentável desde o final de setembro, quando começou a sofrer reflexos da crise americana. "O custo de vida ficou ainda mais alto do que já era. Isso porque alguns municípios do Japão cortaram os subsídios que eram oferecidos aos brasileiros, como por exemplo o jidoo teate (ajuda para criança), para proporcionar melhores condições na educação dos nossos filhos. Então, não estávamos mais contando com esses benefícios e ficou muito mais caro se manter no Japão", explica ele, que residia na cidade de Oizumi com a mulher e cinco filhos.
A ligação do pastor com o Japão, no entanto, teve início há 22 anos. "Fui para lá como dekassegui e depois de seis anos fundei uma Igreja Evangélica no País, que funciona até hoje. Voltei outras vezes ao Brasil, mas dessa vez estava no Japão novamente há quase cinco anos. Confesso que nunca vi uma crise com essas proporções. Muitas pessoas estão sendo gravemente afetadas", revela.
A Igreja de Cirino, inclusive, cuida hoje de 700 estrangeiros que foram demitidos por conta da crise e que estão sem moradia. "Muitas pessoas moravam em apartamentos fornecidos pelas empreiteiras. Agora, com as demissões, a maioria ficou sem moradia, já que o aluguel também tem alto custo. Então, cerca de 700 dekasseguis brasileiros, peruanos e de outros países estão alojados na nossa Igreja, onde também é fornecido almoço e janta", descreve.
A família de Cirino retornou ao Brasil no primeiro dia deste ano. Dois meses antes, a esposa fora demitida da fábrica que trabalhava e não conseguiu outro emprego no País. "Com cinco filhos para sustentar, percebemos que precisávamos voltar para Mogi. A crise pegou todos de surpresa. Primeiro, apenas o setor automobilístico foi afetado. Porém, com a demissão de vários trabalhadores, o setor alimentício também foi atingido, já que diminuiu o número de consumidores. Foi um verdadeiro efeito dominó, até que a crise atingiu todo o País e as pessoas se viram sem empregos e casas", relata.
Para retornar ao Brasil, Cirino precisou vender uma casa que possuía em Mogi das Cruzes para custear as passagens da família. "Foi difícil conseguir passagens, já que muitos brasileiros estavam retornando no mesmo período. Precisei desembolsar R$ 35 mil para trazer todos meus filhos e minha esposa para Mogi. Por isso, há muitos dekasseguis que, mesmo sem ter onde morar, não voltam para as terras brasileiras, pois não têm condições de pagar a passagem. Somente agora, os governos brasileiro e japonês firmaram parceira e estão custeando o retorno de algumas famílias", ressalta.
A crise também estimulou o retorno de Paulo Hiromi Miyamoto a Mogi. Ele deixou a Cidade de Iwata, no Japão, no início de dezembro e hoje é sócio-proprietário de uma oficina mecânica em Varinhas, no Distrito de Jundiapeba. "Trabalhava em uma empreiteira que fabrica bancos para a Suzuki. Antes da crise, de todos os funcionários, 100 eram brasileiros, sendo que metade operava pela manhã e outra parte à noite. Já em dezembro, 50 foram demitidos. Hoje, há apenas 35 brasileiros e cortaram o turno da noite. Em outubro, produzíamos peças para nove mil carros. No mês seguinte, a produção caiu para três mil veículos", exemplifica.
Os trabalhadores demitidos, acrescenta ele, receberam da própria empresa passagem para o retorno ao País. "Para aqueles que ficaram, a empreiteira reduziu o preço do aluguel do apartamento que eles fornecem aos trabalhadores. Mas não compensa mais ficar no Japão, porque as pessoas estão ganhando apenas para se alimentar, já que ou estão desempregadas ou tiveram a jornada de trabalho reduzida", aponta.
Hoje, ele e a esposa, que residem no Alto do Ipiranga, já estão empregados na Cidade. "Além do custo de vida ser mais baixo, ainda contamos com o apoio da família que reside aqui", frisa.
Já o engenheiro Sérgio Kazuo Noda não visita o Japão desde 1997. Ainda assim, sabe dos problemas que os brasileiros vêm enfrentando por conta da crise, a exemplo de seu irmão, demitido no início de janeiro de uma empresa japonesa de autopeças. "Ele está desempregado e se mantendo de arubaito (empregos temporários). Agora, meu irmão está morando em um alojamento, com aluguel a baixo custo, mas já garantiu que se não arrumar emprego fixo no próximo mês, irá retornar ao Brasil, após oito anos morando no Japão", conta.
Visita
No dia 6 de março, às 17 horas, o cônsul geral do Japão, Kazuaki Obe deverá visitar a sede do Bunkyo em Mogi. Na ocasião, o vereador Olímpio Osamu Tomiyama (PTB) deverá pedir apoio do governo japonês para mogianos que hoje estão vivendo em situação crítica no país nipônico. "Hoje, 20% a 25% dos dekasseguis brasileiros são mogianos. E com a crise, muitos perderam emprego, estão sem moradia e não conseguem custear a passagem de retorno. Por isso, queremos sensibilizar os dois governos para dar respaldo a esses brasileiros, até mesmo com a criação de uma Comissão Especial de Vereadores (CEV)", sintetiza.

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